quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Um estado cobarde

O Estado tem sempre que ser uma pessoa de bem. Tem que zelar pelos cidadãos e tem que o fazer de uma forma séria, honesta, responsável e acima de qualquer suspeita.

No ano de 2017 o Estado Português não conseguiu proteger 112 cidadãos da morte em incêndios florestais que se descontrolaram e, hoje acusa 13 pessoas de serem responsáveis por estas mortes.

Como é habitual, nos bancos dos réus surgem sempre cidadãos que, apesar de estarem envolvidos, têm que jogar com as regras que lhes ditam. 

Na incómoda cadeira da justiça não vemos agora os responsáveis por uma mudança irresponsável e até criminosa dos comandantes da Proteção Civil e dos CODU's. 

Por razões que, até hoje, não tiveram outra justificação que não fosse um interesse político, foram destituidas pessoas com capacidade, com know-how, com experiência e em quem as estruturas acreditavam, para serem substituidas por pessoas sem nenhum dos atributos atrás mencionados e, para além disso, com formação dúbia e, que hoje se sabe, até fraudulenta.

É muito triste ver um Estado cobarde a permitir que hoje tenham começado a ser julgadas pessoas sérias e empenhadas que terão sido envolvidas numa das maiores tragédias deste país porque estavam mal comandados, porque os sistemas de comunicações, pelos quais todos nós pagamos milhões de euros, não funcionaram quando mais necessários eram e porque aconteceram condições extremas e quase inéditas, já confirmadas pelos maiores especialistas.

Onde estava, neste julgamento, o Sr. Secretário de Estado da Administração Interna que propõe substuições criminosas e que, no cenário de crise, só estrovou em vez de ajudar e fez declarações miseráveis, deixando transparecer não ter a mínima noção do que falava? Onde estava neste julgamento a Senhora Ministra da Administração Interna que aceita estas alterações e que, também ela, só estorvou as operações e foi recusando demitir-se, quando na sua responsabilidade política fica mais de uma centena de mortos e mais de 500 feridos?
Onde estava neste julgamento o Senhor Primeiro-Ministro que anuiu tudo isto a bem de alguns job's for boys do seu partido?

Acrescido à tristeza que foi ver tanta gente morrer, tanta gente ficar ferida e tanta gente ficar sem lar, temos que ver agora, a tristeza de ver no banco dos réus quem não devia lá estar para expiar os que lá deveriam sentar-se.

Pessoalmente apenas posso mandar um abraço de solidariedade ao Sérgio Gomes que reconheço como um excelente profissional, com uma vida dedicada à causa pública e que não deveria estar a passar por isto.





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