terça-feira, 4 de março de 2008

O MENINO D'OURO

Tudo começou para os lados do Bessa, vão lá mais de 25 anos. Apareceu por aí um miúdo loiro e franzino, muito habilidoso, de nome João Vieira Pinto (JP).
Cedo mostrou ser um jogador acima da média e ali foi crescendo, futebolisticamente, porque no que à altura diz respeito não foi muito bafejado.
Chegou com naturalidade à primeira equipa dos axadrezados, situação que aguçou ainda mais o apetite dos grandes.
Esta cobiça tornou-se ainda maior com as proezas conseguidas, na altura, pelas selecções de sub-20, tendo sido o único jogador que esteve nas duas vitórias do nosso país, em Riade e em Lisboa.
Foi o Benfica que levou a melhor e conseguiu assegurar o seu concurso.
De início instalou-se alguma desconfiança entre os adeptos, pois tratava-se de um jovem de fraca figura. Poder-se-ia comparar, uns anos mais tarde com a chegada de Liedson a Alvalade, onde rapidamente ganhou a alcunha de Levezinho.
Com a sua capacidade e carácter foi-se impondo. Ocupava o lugar de organizador de jogo e ao fim de algum tempo era já a peça mais importante de um xadrez que, com outros bons jogadores, formava uma bela equipa.
Com justiça foi eleito capitão. Deu muitas vitórias ao Benfica, não só com golos que marcava mas também com dezenas de assistências para finalização.
Foi por esta altura que se começou a falar do Menino d’Ouro cada vez que um benfiquista se dirigia a JP. Era o maior símbolo a seguir a Eusébio pois Rui Costa não tinha ainda o estatuto europeu que agora carrega.
Em paralelo, era presença assídua na selecção onde marcava com frequência, sendo ainda hoje o 6º melhor marcador de sempre com 23 golos, agora ameaçado por Cristiano Ronaldo que já leva 20.
O período Benfica acaba com uma das decisões mais polémicas do futebol português, quando João Vale e Azevedo decide dispensar JP sem razão aparente. Há conferências de imprensa quase surreais em que se tenta apagar uma carreira que, já aí, era de muito mérito e por parte do jogador, incrédulo por ser escorraçado do clube a quem se dedicara e onde tinha participado em muitos bons momentos.
Aproveita com isso o Sporting que o contrata, para espanto de todos, sobretudo dos seus associados que, de início, não sabiam se deveriam aplaudir se assobiar aquele que tinha sido o principal responsável por uma das maiores humilhações dos leões no velho estádio de Alvalade, quando o Benfica aí ganhou por 6-3.
Mas este mostrou-se um profissional íntegro e competente. Foi o “pai” de Jardel no ano em que um centro de JP era um golo do avançado.
É no período Sporting que surge o escândalo do Mundial 2002 na Coreia, que correu tão mal a todos mas que foi JP quem mais foi prejudicado, por uma instabilidade que ninguém teve coragem de assumir.
Quanto não daria Scolari para ter agora um JP ao seu melhor nível.
Terminado o contrato com o Sporting tomou a decisão, de que mais tarde se arrependeu, de sair, regressando ao seu Boavista.
Foi apenas mais um dos que não foram aí muito bem tratados, voltando a sair, desta feita para Braga.
Chegou esta semana a hora de também cessar essa relação e procurar um dos eldorados do futebol, que lhe confira uma reforma descansada em termos financeiros pois os anos passam, a classe está lá, mas os anos não perdoam.
Está a chegar ao fim a carreira daquele que não se ri no campo. Aquele que ninguém pode acusar de falta de empenhamento. Aquele que foi sempre um profissional exemplar em todos os clubes por onde passou. Aquele que foi um exemplo para os jovens.
Chegou ao fim em Portugal a carreira do Menino d’Ouro. Nada mais nos resta que a eternamente portuguesa saudade e de lhe endereçar votos de felicidades nesta nova fase da sua vida.

Sem comentários: