Era cerca de meio-dia da passada sexta-feira quando fiz uma consulta rápida aos jornais desportivos on-line e li que tinha sido cancelado o Lisboa – Dakar.
De imediato liguei a rádio e já não se falava noutra coisa. Uma das provas mais mediáticas do mundo do desporto havia sido anulada por causa de uma ameaça terrorista, que até hoje ainda ninguém sabe muito bem se existiu ou não e por parte de quem.
Logo depois começaram as entrevistas. Uns, os autarcas e políticos, mais preocupados com tudo aquilo que se iria deixar de ganhar, em termos financeiros. Outros, os participantes, desiludidos e arrasados, por todo um ano de preparação, em vão.
Se é perfeitamente compreensível haver desilusões por percas face a uma expectativa e uma aposta no turismo, graças à massa humana que se desloca com as comitivas da prova e ao muito público que se desloca, mais compreensível é a desilusão de quem dedicou um ano a uma prova de 15 dias, que à própria da hora acaba sem ter começado.
São milhares de euros investidos num veículo para participar. São milhares de euros gastos na preparação desse veículo. São milhares de euros dispendidos em meses de treinos e provas de preparação. São milhares de euros na deslocação de viaturas e pessoal de assistência. São milhares de euros gastos na sua repatriação. Não falamos aqui da inscrição, pois essa é a única que será devolvida. O somatório de todos estes milhares de euros, que em alguns casos serão milhões, é uma cifra demasiado grande para ser quantificável.
Se agora pensarmos que os patrocinadores iriam investir numa prova que agora deixou de haver e poderão não vir a pagar, quem vai cobrir todo este prejuízo?
E pensemos também naqueles pilotos que levam a competição a sério e que nada mais fizeram ao longo de todo o ano senão preparar-se para esta prova, abdicando de campeonatos nacionais, eventos internacionais e competições diversas e que mesmo a chegarem à praia vêm o mar a fugir-lhes para bem longe.
Quem cobre estes prejuízos invisíveis?
O Dakar existe há quase 30 anos e sempre existiram perigos. No seu início, se calhar, sem ameaças terroristas, haviam mais probabilidades de desaparecerem e de morrerem pilotos que agora. Não havia GPS’s nem localizadores por satélite, ou mesmo a facilidade de meios de evacuação como há presentemente.
Com 30 anos de experiência era também exigida à organização que estivesse precavida para semelhante situação e tivesse capacidade de criar alternativas em tempo para que a prova não fosse radicalmente anulada.
Era imperioso antever dificuldades e que não houvesse mais de metade das etapas a serem corridas dentro de um país que sempre foi problemático.
Tudo isto fez com que o Dakar nunca mais venha a ser o mesmo. Nenhum piloto poderá mais voltar a apostar um ano seu numa prova que pode não vir a acontecer. Já foi anulada uma vez, poderá voltar a sê-lo.
Não são ainda conhecidos os resultados das negociações entre as partes organizadoras. A direcção da corrida, João Lagos como organizador em Portugal, os patrocinadores principais e os governos. É natural que ninguém queira perder mais uma organização, por todo o mediatismo e retorno financeiro, mas desta feita terá que existir outro grau de segurança para quem investe e isso passa, talvez, por mais segurança no terreno e muito diálogo ao longo do ano com todas as partes.
Foi, sem dúvida, mais uma vitória do terrorismo no mundo. Esta, felizmente sem mortos, mas com muitas e graves consequências. Como se devem estar a rir…
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