terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Presidenciais - Um candidato por dia - André Ventura

É um caso sério na política portuguesa pela forma como consegue fazer-se seguir por uns milhares de pessoas, com uma confiança tal que lhe permite dizer o que quer que seja e ser aplaudido. Pior é para quem o critica, que acaba insultado se tiver a sorte de não ser ameaçado (são às dezenas os exemplos nas redes sociais, até internamente nas estruturas do partido e seus contestatários). É o caso objetivo de uma ideologia castradora de opinião, de imposição pela força, de ideias opostas ou de caminhos alternativos.

Proclama pequenas coisas como se fossem as mais importantes e capazes de mudar o país para sempre, mas que, quando analisadas com frieza e ponderação, não passam de temas importantes mas que não são estratégicos.

Diz, orgulhosamente, que se for eleito não será o Presidente de todos os portugueses, mas apenas dos que trabalham e dos que pagam impostos, mas depois, de forma incongruente, diz querer baixar a taxa de IRS para o valor único de 15%, beneficiando com isso uma franja da população que, porque é a mais abastada, deve contribuir mais e penalizando todos os que vivem num patamar médio/baixo. A franja de população de maiores rendimentos é a mesma para quem AV trabalhou durante alguns anos com o intuito de os fazer contornar a Autoridade Tributária e pagar menos impostos, mesmo que com subterfúgios menos lícitos de paraísos fiscais e claro prejuízo para o Estado.

Dele, ouve-se falar dos políticos de esquerda envolvidos em processos judiciais, sendo bastante incisivo mesmo para aqueles cujos casos ainda estão em julgamento, mas não se lhe ouve uma palavra para os ex-banqueiros cujo legado já custou ao Estado mais de 21 mil milhões de euros. Não fala nunca de Ricardo Salgado da mesma forma que fala de Sócrates, coisa que o português comum mistura no "mesmo saco".

Depois agita a bandeira dos ciganos e do RSI mas não teve capacidade de responder a Tiago Mayan quando este lhe disse que os ciganos representavam apenas cerca de 3% do RSI pago no país. Já instado a falar do seu amigo Luís Filipe Vieira e das suas dívidas à Banca nacionalizada, que dariam para pagar o RSI dos ciganos por vários anos, apenas se limitou a soltar um riso nervoso e de desconforto, dizendo que não queria trazer para ali o futebol.

Diz também defender o regime presidencialista, que congrega no presidente e apenas nele, toda a responsabilidade de gestão do Estado, porque isso agiliza os processos e as decisões. Quando Marcelo Rebelo de Sousa lhe disse que nunca seria por esse regime porque conduz facilmente a uma ditadura, não teve, mais uma vez, argumentos, apesar de tentar ir buscar exemplos a outros países que o seu oponente lhe desmontou e com isso o calou.

Várias vezes lhe perguntaram sobre as ações incitamento à violência por parte de Trump, sentiu-se num claro desconforto porque semanas antes escreveu que a vitória de Trump seria a vitória da democracia, coisa que não aconteceu e que fez despontar a tirania de um presidente que tem como ídolo e que está a ser criticado pelo Mundo.
Facilmente atira à cara de Marisa Matias os regimes da Venezuela, da China ou de Cuba, mas foge a sete pés de falar de Bolsonaro, Trump ou qualquer outro dos seus correligionários da direita extrema.

A sua campanha, para além de baixa e, às vezes até suja, de insulto vulgar e barato aos seus oponentes, como chamar Candidata Cigana a Ana Gomes ou a Candidata da Marijuana a Marisa Matias, foi também uma campanha da cassete. Há muito que se diz que o PCP tem uma cassete no seu discurso porque se sustenta sempre nas mesmas coisas, gastas e pouco convincentes. Pois agora aparece Ventura com uma cassete, com novos temas mas que são repetidos até à exaustão. E como soe dizer-se, uma mentira repetida muitas vezes, acaba por parecer uma verdade. Mas sê-lo-á apenas a quem segue a doutrina de uma "religião política" que cega os ávidos de justiça popular e os menos esclarecidos que se deixam levar por chavões.
Tudo isto acaba até por fazer diluírem-se os assuntos de que fala com razão, mas esses também são comuns aos outros e, depois de eleitos, acabam por fazer todos o mesmo. Nada! 

A sua inteligência e a sua escola de comunicação, solidificada em largos anos de comentários desportivo, fazem-no sobressair e, na verdade, engana facilmente quem não procurar informar-se, ser atento e que pense pela sua cabeça.

E porque uma pessoa inteligente tem que ser entrevistado por outra pessoa inteligente, foi Manuel Luis Goucha quem mais expôs as fraquezas deste candidato, que lhe devolveu direta e objetivamente todas as críticas que, de forma simplista lança para o ar e que demonstrou não ser capaz de rebater, assunto após assunto. Acabou por ser do sítio mais insuspeito que surgiu a melhor demonstração da fraqueza da política populista de André Ventura. Um tipo de política que já caiu em Itália, que já caiu nos Estado Unidos, que se espera que caia em breve no Brasil e que cá eu espero que nunca venha a ser uma realidade.

Como não aceito votar num Presidente que condicione a minha opinião, que condicione a minha forma de pensar, que condicione as minhas escolhas, que condicione a minha vida, André Ventura é, sem dúvida, a escolha que NÃO faço para Presidente do meu país!



Sem comentários: