É forte e tende a ser violenta a contestação à passagem da chama olímpica pelos diversos países que fazem parte do habitual trajecto.
Já houve problemas na Grécia aquando do seu acendimento simbólico. Houve também em Londres à sua passagem e esta segunda-feira, pouco antes de escrever estas linhas, em Paris, perante um dispositivo policial nunca antes visto de guarda à tocha, que ainda assim não conseguiu reprimir todos os protestos, houve necessidade de transportar a tocha de autocarro, tendo, inclusivamente, sido apagada por questões de segurança, situação inédita. Claro que estas questões logo foram também entendidas de forma simbólica como um protesto pela política chinesa de desrespeito pelos direitos humanos.
Mas reflectindo sobre este assunto pode perguntar-se se à data da atribuição dos Jogos a Pequim as coisas não eram já assim? Claro! Tinham menos visibilidade mas era exactamente assim. Matar por divergências ideológicas, quer política quer religiosa, era e é normal na China.
Então porque razão o Comité Olímpico atribuiu a organização a um país que vai contra todos os ideais de Pierre de Cubertain? Porque razão se põe nas mãos de quem não tem respeito pelo meio ambiente um evento que celebra também a coexistência com a natureza? Porque razão deixa fazer na capital chinesa o Jogos da Paz?
Todos entendemos que tudo se resume a um miserável rebaixamento à maior economia e maior potência da actualidade.
Podem vir agora os responsáveis dizer que o fizeram com a melhor das intenções, no sentido de tentar acabar com as suas políticas de segregação, de subjugação.
Pois eu acho que se fez exactamente ao contrário. Primeiro a China teria que demonstrar merecer. Teria que dizer ao mundo que estava mudada, que respeitava as opiniões do seus cidadãos, que os deixava partilhar a informação mundial através dos meios actualmente disponíveis, que os deixava serem pessoas normais. Que respeitava os povos que oprimiu, dando-lhes a liberdade de escolher se querem ser ligados a Beijing ou se preferem ser independentes, como é o caso de Taiwan ou do Tibete. Teria que deixar de martirizar monges que se manifestam de forma pacífica. Teria que deixar de fazer passar blindados por cima de pessoas que apenas desejam liberdade de expressão. Teria que deixar entrar num território, que nem sequer é seu, um Dalai Lama que apenas apregoa a paz no mundo.
Havia tanta coisa a melhorar antes de serem atribuídos estes jogos que agora apenas há que assumir um erro e tentar que ele não seja ainda maior.
Mas temo que ainda agora estejamos no adro de uma procissão que está a começar. Estou convencido que a contestação poderá ser ainda maior e obrigará a tomadas de posição de pessoas com cargos importantes no mundo. Hillary Clinton já pediu a George W. Bush que boicote a cerimónia de abertura. O presidente Francês Nicolas Sarcozy já disse que o irá fazer. Isto terá, certamente, repercussões pois o estado chinês não é de admitir ser chamado à atenção pelos seus actos e ficar ser fazer nada em troca.
O mal já está feito e fala-se pouco de desporto e muito de atitudes extra desportivas e isso não é o espírito dos Jogos Olímpicos. Esperemos que se aprenda com o erro e não se voltem a fazer atribuições semelhantes no futuro.
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