quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O que eu dizia sobre claque há mais de um ano

Em Agosto de 2007 escrevi um artigo que foi publicado num semanário regional que me parece muito actual e que agora para aqui transcrevo:

"O tema Claques de Futebol está sempre vivo mesmo quando não se fala dele.
Neste momento, com a nova lei que obriga à legalização das ditas, volta de novo à actualidade.
Uma claque hoje em dia já não é só um conjunto de jovens que se junta para apoiar a sua equipa. É também um centro de recrutamento político, um local privilegiado para passagem e consumo de drogas e um local propício ao ganho de dinheiro fácil.
O fenómeno não é só nosso, aliás, podemos dizer que nesta matéria ainda estamos a alguma distância de outros países, como a Espanha, da Itália ou da Inglaterra.
Os clubes têm um dilema importante em mãos que passa por manter os elementos agrupados e com isso conseguir um controlo próximo, com os problemas que se lhe reconhecem ou desagregá-los e ter muito mais dificuldade na contenção da violência dentro do estádio, que é o que se passa nos clubes ingleses. Aqui não se vêm problemas dentro do estádio, mas para quem já teve a possibilidade de ver um jogo aí, notou que os jovens vêm em grupos, vão ao “pub” da esquina e ao saírem, já não nas melhores condições, vão dispersos para o interior do estádio. O sentimento de insegurança é muito maior para as famílias que gostam de “ir à bola”.
Os grupos extremistas têm neste tema um papel importante pois o campo de recrutamento é vasto e muito apetecível. Em troca há contrapartidas de diversa ordem que podem passar por apoios logísticos e financeiros.
Contra estes extremistas estão normalmente outros grupos, como sejam os dos negros, com quem existem divergências na base da ideologia e muitas vezes estas rivalidades são o rastilho para rixas incompreensíveis quando vistas à distância.
No fundo, a filosofia que está subjacente ao grupo e que é o apoio da sua equipa não passa de uma desculpa num meio muito complicado.
E nisto tudo o controlo é também muito difícil de exercer e por isso as claques mais importantes contam com os mesmos dirigentes há muitos anos, sendo que os desacordos que vão existindo dão lugar a outros grupos dentro do mesmo clube, muitas vezes com divergências violentas entre eles que já têm descambado em violência.
No livro “diário de um skin”, António Salas, o jornalista espanhol conta a sua experiência de infiltrado nos Ultrassur, a mais numerosa, famosa e perigosa claque do Real Madrid e permite que nos apercebamos da complexidade de entrar em tal organização. Não é membro quem quer, mas sim quem faz por merecer. Tem que se estar à altura das exigências, que são muitas. Depois para subir na hierarquia há como que uma pista de obstáculos que têm que ser ultrapassados.
A leitura deste livro despertou-me a curiosidade para o nosso país e consegui chegar a uma conversa informal com um membro de uma das maiores claques do país e concluí que por cá as coisas se passam de forma igual. Não se entra se não houver um “padrinho” não se sobe se não se for alinhado e destacado.
Como nem tudo na vida é mau, as coreografias e o permanente apoio às equipas, são já quase imprescindíveis, pois o nosso estilo de ver futebol não favorece os jogadores. Somos adeptos pela negativa e não pela positiva. Só gritamos quando não gostamos, não o fazemos para incentivar.
Não lhes pedindo que sejam uma escola de virtudes, poder-se-ia ganhar se fossem mais organizados, disciplinados e ordeiros. "

1 comentário:

Anónimo disse...

como o mundo e um balão!