Há cerca de dois meses vi uma publicação no Facebook do Sport União Alfeizerense, que teria havido um treino de Walking Football (futebol a caminhar) e que iriam para o segundo. Pensei logo que gostava de experimentar, afinal jogar futebol sempre foi uma paixão e, de há uns anos para cá os joelhos deixaram de responder positivamente.
Nesse treino disse aos restantes participantes que poderia ser a minha primeira e última. Felizmente, não mais deixei de ir. Joga-se futebol e o corpo não tem a mesma carga física como quando se corre.
De um treino semanal, logo passámos a dois e tem sido muito agradável.
Para quem não está muito familiarizado com a modalidade, tem regras muito específicas, que rapidamente se apreendem. Obviamente não se pode correr, não se pode dar mais de 3 toques na bola e esta não pode levantar mais de um metro de altura. Os golos só são válidos quando marcados dentro de uma área de seis metros sem guarda-redes. Joga-se de cinco contra cinco em equipas mistas, em que, obrigatoriamente, tem de haver duas pessoas de sexto oposto.
Como venho dizendo, não é um desporto para velhos. É um desporto para teimosos. Para todos os que teimam em não se resignar e deixar vencer pelo passar dos anos.
Entretanto a Federação Portuguesa de Futebol organizou aquilo a que chamou Primeira Festa desta modalidade. E que festa!...
Foi selecionada uma equipa por distrito e, em Leiria, calhou-nos ser os representantes e lá fomos na sexta-feira juntos com Viana do Castelo e Coimbra. O nosso quartel general ficou em Carcavelos no Hotel Praia Mar, coincidentes com o nome do patrocinador das nossas camisolas que é o ZeZé Praia Mar em São Martinho do Porto.
No sábado pelas oito e meia da manhã estávamos a caminho da Cidade do Futebol, onde fomos recebidos de forma principesca e deparamo-nos com 6 campos fantásticos de relva natural e, em tudo o resto, nada faltava. Água, fruta, barras energéticas, protetor solar... apoio médico e de fisioterapeutas e música, muita música a animar as equipas de todo o país, com certamente mais de 300 participantes.
O nosso grupo tinha, para além de Leiria, Porto, Guarda e Ponta Delgada.
A estreia foi com o Porto e começou mal. Ao intervalo estávamos a perder 5-0. A inexperiência paga-se e, na sua maior parte com erros individuais assumidos pela equipa, os golos foram aparecendo para os do Norte.
O treinador Carlos Manuel fez algumas retificações para a segunda parte, o nosso jogo melhorou e, nesta metade conseguimos um parcial de 3-0. Com um penalti falhado e uma ou outra oportunidade não aproveitada, o 5-3 final podia ter sido diferente.
Pessoalmente, a minha prestação começou e acabou neste jogo, com um estiramento do adutor, que me impossibilitou de continuar no jogo e de entrar nas outras partidas, mas os meus colegas lá estavam, estoicos, a defender as cores de Alfeizerão e Leiria.
Por força desta lesão e depois de já ter tido uma primeira intervenção do nosso fisioterapeuta, experimentei o departamento médico que que a Federação pôs ao nosso dispor. O meu agradecimento por serem tão prestáveis, profissionais e preocupados, sempre a tentar saber como me sentia e a dizer o que devia fazer.
Os balneários das seleções abriram-se para nós, antes de um bom buffet no refeitório, que, para lá de um bacalhau com broa, tinha entradas, acompanhamentos, frutas e sobremesas. Tudo com quantidade e qualidade assinalável.
Porque era preciso descansar antes dos novos confrontos, estavam disponíveis atividades lúdicas. Para além de todos podermos ver a exposição dos valorosos troféus que as várias seleções conquistaram, tínhamos matraquilhos, ping-pong, cartas e um bingo que distribuiu vários prémios, onde pontificavam as bolas vintage. De referir que o primeiro prémio veio para Leiria e para o Fanã, que ganhou uma garrafa metálica de água.
Às 17h tínhamos o segundo jogo, desta vez contra a Guarda.
Uma vez mais não tivemos a melhor entrada e, em pouco tempo estávamos a perder 3-0. Uma vez mais o mister Carlos Manuel retificou e melhorou a equipa que, paulatinamente, chegou ao empate. Depois disso voltámos a falhar um penalti que poderia dar a vitória.
Melhorámos significativamente do primeiro para o segundo jogo que teve um resultado justo, face aos nosso erros da primeira parte.
O jantar estava marcado para depois da última ronda de jogos e tínhamos preparado um verdadeiro arraial de rua, com sardinhada e carnes grelhadas. À semelhança do almoço, com entradas, acompanhamentos, fruta e sobremesas. E até uma roulote de farturas fez as delícias de quem gosta desta iguaria.
A música sempre presente, agora com marchas populares, chamou os mais extrovertidos, que rapidamente contagiaram e puxaram os mais envergonhados e, quase toda a gente deu um passinho de dança ou entrou no longo e animado comboio.
Assim terminou este dia, com regresso ao hotel.
Os nossos bravos e bravas aproveitaram um pouco da noite de Carcavelos, mas tal como verdadeiros jogadores, o regresso foi cedo ao descanso, para que, no dia seguinte poderem estar em forma.
O domingo começou à mesma hora, sendo que o nosso jogo era apenas às 11h, mas tínhamos muito futebol para ver, com 6 jogos a decorrer ao mesmo tempo.
Neste dia esperava-nos então Ponta delgada. Uma equipa especial! Composta por pessoas com percursos de vida nem sempre muito fáceis ou felizes e que tiveram nesta fim de semana o melhor das suas vidas. Senhoras que nunca tinham dado um chuto numa bola e que, frente à baliza, chutavam ao contrário, mas que se sentia estarem a desfrutar como mais ninguém ali na Cidade do Futebol. Confesso alguma emoção quando falei com os responsáveis que optaram por premiar pessoas, ao invés de trazer uma equipa competitiva. O meu elogio público para quem tomou esta decisão.
Dentro da festa, fizemos outra festa, ajudando estas pessoas a serem felizes e até um dos árbitros vestiu uma das suas camisolas e marcou-nos um golo que foi uma explosão de alegria de todos, com as duas equipas reunidas num abraço.
O resultado deste jogo? Apenas e só felicidade!
Terminámos esta jornada com a atribuição de medalhas de participação a todos os participantes e com muitos abraços e cumprimentos entre pessoas que 48h antes não se conheciam.
Tive então a oportunidade de agradecer e dar os parabéns ao vice-Presidente da Federação José Couceiro por estar a promover muito mais do que futebol a caminhar. Está promover um estilo de vida mais saudável, em confraternização e criando laços entre pessoas de todo o país.
A título de curiosidade, por ali andaram algumas pessoas bem conhecidas mas que neste ambiente se tornam iguais entre os demais, porque só quem tem a humildade de saber partilhar simpatia, amizade e boa disposição, cabe nestes convívios.
Como não pode haver futebol sem árbitros, a Federação escolheu dos mais jovens para ajudar ao jogo. Apesar de jovens, alguns já com bom nível e que andam até na Liga 3. Todos numa vertente muito diferente do que estamos habituados, muito simpáticos e comunicadores, afinal são jovens normais, com sonhos e ambições e também eles estão de parabéns pela forma como souberam conviver.
Dos outros participantes, alguns acabaram por ficar, naturalmente, mais próximos. Desde logo os nossos parceiros de autocarro. Viana do Castelo e Coimbra. No nosso hotel, Castelo Branco rapidamente criou empatia. E depois, os nossos adversários, o Porto e a Guarda, onde muita gente está ali com o espírito certo do convívio.
Antes de fechar este registo, temos de agradecer a quem nos ajudou a estar neste evento de forma digna.
O Zezé Praia Mar em São Martinho do Porto, que nos ofereceu o equipamento de jogo e O Mr. House, a Auto Pneus Gasolinas e o JNS Seguros que patrocinaram as camisolas que usámos sempre que não estávamos em campo.
A Câmara de Alcobaça e a Junta de Freguesia de Alfeizerão cederam lembranças para os nossos adversários e para a Federação que também agradecemos.
Agradecimento final à Associação de Futebol de Leiria por ter confiado em nós para ser seus representantes, o que achamos ter feito com dignidade e a responsabilidade de representar um distrito, pois o nome que sempre se ouviu na Cidade do Futebol, não foi Alfeizerão, mas sim, Leiria. Certamente poderemos contar com a Associação em oportunidades futuras.
Por fim, tenho de deixar aqui os nomes da nossa equipa:
Carlos Pereira (Escapa) - Treinador
Luís Barreira - Fisioterapeuta
Laura Mesquita
Paula Violante
Joa"Quim" Marto
Fernando "Fanã" Pereira
Nelson Cairrão
Paulo Franco
AnTÓnio Casimiro
Secundino Ferr(inho)
Jacinto Pessoa
Valdir Bigode
José Luís "Mocho"
Aníbal "Ramona"
Vítor Correia
Jaime Feijão
Joaquim "Quitó" Pereira - que, à última hora não pôde ir, mas que considerámos como se tivesse estado connosco